cristovão tezza

Uma noite em Curitiba

Uma noite em CuritibaPercebo que um tema recorrente na literatura é a relação entre um pai e seu filho. Ou, melhor ainda, entre o filho e seu pai. Presente desde em obras como o já resenhado A invenção da solidãopassando mesmo por ficção considerada mais “de gênero” como Os filhos de Anansi, até a literatura clássica de Sófocles em Édipo… Talvez o arquétipo do filho contra seu pai, o embate de gerações, tenha muito a nos dizer.

Pudera! Temos grande material a ser aproveitados da relação: infância, possível rejeição, o período frágil da relação na criação paterna; a figura de autoridade, que é vista como ídolo e que é desconstruída na adolescência, que pode se desenvolver para uma amizade ou um embate; a quebra do convívio familiar, o confronto final entre a geração que vai e a que fica. O que foi, o que é, o que será, o que está batido, precisa ser renovado, e o impulso incontrolável por liberade que transfigura o comportamento. Quando o pai esbanja autoridade ou fama, então, torna-se quintessencial a ruptura, a fuga da sombra; deve-se aspirar pela libertação do titã que o precede, livrar-se dos grilhões de uma expectativa elevada. A figura do pai, do predecessor, torna-se importante não apenas no âmbito particular e íntimo, mas também na arte e, por consequência, na literatura. (mais…)

Breve espaço

Breve-EspacoTerceiro livro do Cristovão Tezza que eu tenho a oportunidade de ler, Breve espaço me encantou de maneira que nenhum dos antecessores conseguiu. Ao ler meu primeiro livro dele, O filho eterno, provavelmente a sua obra mais aclamada, vencedora de enésimos prêmios literários e mesmo traduzido para diversas línguas, encontrei uma obra de boa leitura e que me fez experimentar sensações: partilhei até certo ponto o medo e a frustração do protagonista (que me parece ter requintes autobiográficos que me aproximaram da obra), mas não me deixou encantado como fico com alguns livros. Envolveu-me, mas talvez uma certa ansiedade, um nervosismo resultante da temática da obra (não consegui a momento algum deixar de imaginar como deve ser difícil me colocar no papel daquele pai), acabou com que eu não me entregasse por completo ao livro.

Mas, afinal, essa resenha não é de O filho eterno. Só não consigo deixar de comparar as leituras que fiz do mesmo autor, mesmo estas tendo dez anos de diferença. O filho é de 2007, enquanto Breve espaço foi publicado pela primeira vez, com o título “Breve espaço entre cor e sombra”, em 1998. Cristovão Tezza decidiu por uma mudança de título para a segunda edição, na qual ele revisitou seu eu de anos antes e deu uma polida em sua obra. E diz:

Nestes tempos performáticos, não seria mais autêntico (eis a palavra arrogante), deixar o livro exatamente como nasceu? Não sei. Depois de terminado, todo livro tem um certo espírito que não pode ser mexido sem, digamos, quebrar a porcelana. Revê-lo eve ser um gesto de arqueólogo: vá com cuidado. Apenas a superfície pode ser tocada, e somente para revelar o que (quem sabe) já estava oculto na velha forma. (mais…)