Percebo que um tema recorrente na literatura é a relação entre um pai e seu filho. Ou, melhor ainda, entre o filho e seu pai. Presente desde em obras como o já resenhado A invenção da solidão, passando mesmo por ficção considerada mais “de gênero” como Os filhos de Anansi, até a literatura clássica de Sófocles em Édipo… Talvez o arquétipo do filho contra seu pai, o embate de gerações, tenha muito a nos dizer.
Pudera! Temos grande material a ser aproveitados da relação: infância, possível rejeição, o período frágil da relação na criação paterna; a figura de autoridade, que é vista como ídolo e que é desconstruída na adolescência, que pode se desenvolver para uma amizade ou um embate; a quebra do convívio familiar, o confronto final entre a geração que vai e a que fica. O que foi, o que é, o que será, o que está batido, precisa ser renovado, e o impulso incontrolável por liberade que transfigura o comportamento. Quando o pai esbanja autoridade ou fama, então, torna-se quintessencial a ruptura, a fuga da sombra; deve-se aspirar pela libertação do titã que o precede, livrar-se dos grilhões de uma expectativa elevada. A figura do pai, do predecessor, torna-se importante não apenas no âmbito particular e íntimo, mas também na arte e, por consequência, na literatura. (mais…)