gabriel garcía márquez

O general em seu labirinto

relato_16e_3_SAIDA_2Na onda das leituras de Gabriel García Márquez, O general em seu labirinto está entre os que ganharam uma versão com o novo (lindíssimo) projeto gráfico neste começo de ano, junto a Ninguém escreve ao coronel, resennhado há algumas semanas atrás. Este livro tem uma proposta semi-jornalística, semi-romântica que acaba em um livro que poderia se chamar de romance histórico. Este livro especificamente conta a história do El Libertador da América Latina, o general Simón Bolívar, figura que Gabo fez o favor de estudar por um longo tempo (passando inclusive pelas memórias em 37 volumes de um dos colegas militares do liberal).

Não bem como uma biografia – a história contada não é a de sua vida ou a de suas guerras, mas a do seu crepúsculo. Os últimos meses da vida do general (título pelo qual ele é tratado durante toda a duração do romance), a sua desesperança e o temor de ter todos os seus feitos e sonhos desfeitos a partir da sua morte. O retorno do general Santander, seu principal rival; o desmembramento da Grán Colômbia; a expatriação de seus inimigos exilados e o seu apagamento da história latino americana. É interessante a leitura feita tanto tempo depois do acontecimento da história real, quando já temos todas as respostas para os medos que o assolavam.  (mais…)

Ninguém escreve ao Coronel

coronel_SAIDA_2b_texto_novoMinha quinta leitura do Gabriel García Márquez, não estava esperando por uma história longa e complexa – até porque uma mera olhadela no livro não deixa espaço para tamanha especulação. Ninguém escreve ao coronel, um livrinho de noventa páginas, quase cem, conta uma história simples mas ao mesmo tempo carregada de significado, e, apesar de não ter me conseguido envolver como eu gostaria, eu reconheço o seu mérito em passar uma visão desejada do mundo por parte do autor.

Na não-sei-quão-famosa Escala de Idealismo vs. Cinismo na ficção, este provavelmente fica bem puxado para o segundo extremo. Um coronel anônimo, só chamado de Coronel por toda a história, lutou pelo seu país em uma das rebeliões (que seria depois retratada mais longamente na magnum opus do autor, Cem anos de solidão). Após a rendição do seu superior, e de todo o seu grupo, ele também é aposentado com promessas de uma pensão com a qual futuramente poderia pagar as suas despesas. A guerra acabou há cinquenta e seis anos, o seu nome saiu no processo como ganhador da bolsa há quinze, e todas as sextas o Coronel vai ao porto da cidade esperar a correspondência – é nessa semana que ele receberá a pensão. Mas ele não recebe nenhuma carta, não recebe a sua pensão, e ninguém escreve ao Coronel. E, sem a pensão, só pode viver quase que passando fome, com seus poucos pertences de outrora, a sua mulher (teimosa, mas carinhosa), e um galo de rinha que seu filho deixou para trás antes de ser fuzilado por distribuir panfletos subversivos.  (mais…)