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Contos de mentira

Contos de mentiraTalvez eu não tenha sido completamente sincero quando disse que aquele seria o meu último livro de contos por um tempo ao resenhar Ficção de polpa. A verdade é que estou em uma boa época para a leitura de contos, e crescentemente me apego a esta forma de expressão literária com a qual até este ano eu não tive muito contato real. Um pouco de costume aqui, uns experimentos ali, autores bons, autores nem tão bons, e vou me distraindo ao ler histórias menores, de uma só vez, várias pequenas experiências completas, em dose pequena, para contrabalancear o romance que lutei para terminar por dois meses e que em breve deve figurar em um post por aqui.

O alvo da vez foi o vencedor do prêmio Sesc de literatura na categoria contos em 2010: o livro de estreia de Luisa Geisler Contos de mentira, que chamou a atenção pela idade da autora (19 na época de publicação, 23 hoje) e por certa inovação em relação à linguagem utilizava, que escapa de uma simulação do já consagrado para investir em uma narrativa mais moderna e cinematográfica a partir de um jogo dinãmico de cortes e efeitos. (mais…)

Ficção de polpa, volume 1

Ficção de polpaAcho que a última antologia que lerei por enquanto, Ficção de polpa me lembrou muito de Geração subzero, lida mais cedo neste mês. Creio que o fato desta ser a terceira resenha seguida de um livro de contos seja em parte coincidência, em outra decorrência de que é mais simples a leitura de contos durante uma viagem, que foi quando eu tanto terminei Final do jogo quanto comecei o primeiro volume desta série idealizada pela Não-editora que já acumula quatro coletâneas de histórias curtas.

A coleção idealizada e organizada pelo fundador da (não) editora, Samir Machado de Machado, almeja atingir o entretenimento despretensioso. A premissa é similar a da antiantologia de Felipe Pena, diferindo aparentemente na motivação ideológica: Ficção de polpa anseia explorar e estimular um pouco da ficção especulativa nacional, apesar da nossa suposta falta de tradição no ramo, não tendo criado a cultura da pulp fiction norte-americana. (mais…)

Final do jogo

Final do jogoApesar de ter publicado um clássico como O jogo da amarelinha, o qual ainda estou para ler, Julio Cortázar é bem mais conhecido por sua proficiência como contista. Tendo escrito tanto contos quanto sobre contos (lembro-me de ter lido algo a respeito em Valise de cronópio), pude ver nesse primeiro contato com a prosa do autor que ele sabe a que veio. Um livro já há tempos esgotado no Brasil, Final do jogo, relançado neste mês pela Civilização Brasileira, é um livro e um joguete: divididos em três níveis temos dezoito contos do autor, ordenados mais ou menos por dificuldade.

“Cada nível é medido pelo esforço de compreensão que se deve fazer para crer em cada um dos contos do autor”, explica a orelha. Assim, começamos pelo ‘fácil’ “Continuidade dos parques”, de apenas três páginas mas que já dá o tom da obra e da coleção de Cortázar, com uma proposta simples, uma linguagem nem tanto mas nada muito complicada, e um desfecho que me deixou, ao final, com um belo sorriso. Fui surpreendido.

Sinto que estou tomando um gosto pela leitura de contos, pouco a pouco, desde que os experimentei  a sério com DublinensesAssim como no livro de Joyce, temos as histórias melhores, as não tão boas, as indiferentes; mas o nível se mantém bom durante toda a coleção, apresentando uma coesão que me manteve na expectativa de ler o próximo e me surpreender positivamente. (mais…)

Geração Subzero

Geração SubzeroO que chama a atenção, no primeiro contato com Geração Subzero, é a sua proposta que, se não é polêmica, é pelo menos um tanto ácida em seus propósitos. O organizador da autodeclamada “anti-antologia”, Felipe Pena, já afirma logo na primeira linha de seu prefácio introdutório: “Boa parte da literatura brasileira contemporânea presta um desserviço à leitura”. Com a premissa de expandir os horizontes da literatura brasileira às obras com valor de entretenimento sobre o julgamento estético perpetrado pela crítica literária, não é de se surpreender que empreendesse nesta empreitada os nomes que estão mais na boca dos leitores: Eduardo Spohr, André Vianco, Thalita Rebouças, entre outros.

A coletânea de “20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores” não pretende ser uma antologia, diz Pena, pois não é uma seleção dos melhores ou mais representativos de uma geração, como definiria o termo, mas um apanhado de autores que fazem carreira não nas graças da crítica literária formal, mas da massa leitora, como diz, “leiga”. É sem dúvida um debate extenso e já de longa data a relação algo dicotômica entre a “literatura comercial” e a “alta literatura”, com partidários de um lado, de outro, e aqueles que pensam de um jeito e falam de outro temendo ser rotulados ao ir contra a norma vigente, como ressalta o organizador.

Talvez a própria construção dessa dicotomia seja, em partes, um equívoco: quando estamos falando de entretenimento, desloca-se para um campo estritamente subjetivo. Pessoas podem se entreter com diferentes tipos de literatura. Entretanto, deixa claro Pena que o objetivo é entreter “o leitor”, democraticamente, referindo-se à maioria enquanto o gosto pela literatura considerada alta e tomada como relevante pela crítica seja de um aspecto mais elitizado.  (mais…)

Dublinenses

857799354X_bmUm daqueles casos em que eu me pegava pensando que este livro seria razoavelmente bom e acabei me surpreendendo. Peguei a edição de bolso que tenho aqui em casa, de 190 páginas, bem fina e que de fato cabe no bolso, para ler nas manhãs de um metrô lotado. Sendo um livro de contos, não muito longos e nem cansativos, julguei que fosse a minha companhia perfeita para estas manhãs na lata de sardinha urbana.

Só não esperava o quanto eu acabaria gostando do livro. Dublinenses de James Joyce é, basicamente, um punhado de contos – quinze, para ser mais exato – a respeito de naturais e moradores de Dublin, vivendo as suas vidas, sofrendo os seus dilemas, arrependendo-se de atos que deveriam e sendo pessoas de verdade. Há uma espécie de ciclo de vida dos dublinenses retratado no livro. Os primeiros contos são sobre a infância, do ponto de vista de crianças. Depois, os próximos vão para a adolescência, abordando alguns dilemas juvenis (fugir com o amor, a farra de garotos promissores). Após isso, os adultos e seus problemas (desilusão conjugal, dívidas), e por fim a idade avançada. O último conto e o mais longo, nomeado Os mortos, fecha a coleção com um conto sobre a morte, o que acaba até fechando poeticamente os temas do livro (haja visto que o primeiro conto, narrado do ponto de vista de uma criança, é sobre, também, a morte de uma figura quase paterna).  (mais…)